Amanhã, os deputados debatem a antecipação do fim da vida, de forma consciente e medicamente assistida: Eutanásia.
Tenho eu, ou o Estado, direito a antecipar a morte de alguém que tem uma lesão definitiva ou uma doença incurável e fatal?
Não, não tenho.
Tenho o direito, ou o Estado, de obrigar essa pessoa a viver num sofrimento duradouro e insuportável.
Não, não tenho.
O debate da eutanásia é independente da necessidade de mais e melhores cuidados continuados e paliativos. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
Por melhor que uma pessoa seja cuidada, há situações em que é impossível dar-lhe condições, físicas e psicológicas, que façam valer a pena estar ali. Porque muitas vezes é disso que se trata, "estar ali" e "estar ali" já não é viver.
Eu sei que há países onde há eutanásia e há exageros, mas esses exemplos servem para que se possa fazer uma lei melhor em Portugal.
Espero que a decisão não passe por referendo porque não me sinto no direito de decidir pelos outros e sinto que os outros não têm o direito de decidir por mim. E eu nem sequer sei se pediria a eutanásia para mim, não sei como ficaria se um dos meus a quisesse, mas isso não é motivo para querer impedir que, quem a quer, tenha esse direito.
A Igreja, que não queria referendo mas agora quer, somente para travar o processo, não é tida nem achada neste assunto.
É uma questão social, não religiosa.
Tal como o divórcio, o aborto e tantas outras questões.
Vivemos num Estado laico, "Graças a Deus" e por isso, o que a igreja pensa sobre assuntos é indiferente. Quem é religioso e não quer ser eutanasiado, está livre de não pedir a eutanásia. Parece-me simples. Ser religioso é cumprir os preceitos da igreja, não é impor esses preceitos aos outros.
O pedido tem que partir sempre do próprio, nunca de terceiros, porque só o próprio sabe se o que sente é suportável ou se "vale mais a morte do que tal sorte" e há muitas formas de perceber se é um pedido desesperado e momentâneo, ou um desejo firme e incontornável.
Deixo duas citações de dois homens com autoridade para falar sobre o assunto. Ambos já morreram, um pediu a eutanásia outro não, mas ambos concordavam com ela:
"A vítima deve ter o direito de acabar com a própria vida, se ela quiser. Mas eu acho que seria um grande erro."
Stephen Hawking
"Uma liberdade que tira a vida, não é liberdade.
Uma vida que tira a liberdade, não é vida"
Ramón Sampedro