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Blog de AlGo

Por Mena Gomes

Blog de AlGo

Por Mena Gomes

Faltas-me

22.07.24

Este texto estava em papel, mas quero que fique aqui. Sei que a Sandra acreditava que lá, para onde ela foi cedo demais, estaria num lugar bom, por isso, vou querer acreditar que, de alguma forma, ela saberá disto que escrevi, como se ela fosse ler.

Ainda não sinto saudades, porque ainda te tenho presente. A expressão espanhola é a que melhor define o que sinto:

- Tenho-te de menos.

Não tenho agora a quem ligar para a cusquice. Como vou saber aquilo que tu sabias primeiro, porque estavas muito bem localizada? As vezes que pensei: "vou ligar à Sandra". Muitas mais do que as que efetivamente liguei e agora... agora queria tanto.

Lembro-me bem como começou a nossa amizade. Do tratamento formal, que demorei a mudar, ao "tu cá tu lá" e à cumplicidade que nos fazia rir das mesmas coisas sem sequer precisar de falar delas.

Estavas sempre onde era preciso. Eu não sei se estive sempre, mas sei que sabes que "sou assim".

A tua fé inabalável fez-me acreditar contigo na tão desejada cura. Apesar do medo que sempre tive, tinha a esperança que se alguém conseguia, eras tu, a tua vontade de superar, a tua alegria, o teu "está sempre tudo bem, se não estiver, empurra-se". Sempre animada, mesmo quando o corpo não acompanhava o espírito, porque te pregou tantas partidas.

Naquele sábado eu não sabia que era o último. Que feliz acaso ter-te encontrado à porta do supermercado. Riste-te de mim, porque levei a lâmpada fundida, para não me enganar na que devia comprar. "só tu", disseste. Despedimo-nos com um "até amanhã".

Ao fim do dia, a maior das partidas que o teu corpo te pregou levou-te para sempre.

Acredito que quererias que continuemos a "empurrar", que nos ríamos, sempre e muito... mas está tão difícil.

Empurro, porque tem que ser, mas sinto muito a tua falta. Sei que eras quem movia muitas coisas que nunca mais voltarão a ser iguais, porque nos faltas, porque te temos de menos.

Já passaram quatro meses. 

 

 

...

15.03.22

Conheço a Vera não há muito tempo, mas ela é daquelas pessoas que cativa, que enche uma sala de alegria, e que, sem darmos por isso, faz parte da nossa vida. O mesmo aconteceu com o Cesário, o filho da Vera. Simpático, alegre, atencioso, com o sorriso como marca registada. Um bom miúdo. Um rapaz incrível.

O Cesário partiu no sábado.

Faltam-me as palavras para dizer o que isto significa. 

 

Dezembro

02.12.20

Um dia 1 de dezembro mudou a minha vida. Aquele dia que se diz "o primeiro do resto da vida" aconteceu quando eu só tinha 14 anos, havia ainda muito para ser o resto. 

Tudo poderia ser diferente, isso eu sei, e as saudades são muitas, principalmente as saudades daquilo que não pude nem nunca vou poder viver. 

O meu pai morreu no fim de um primeiro dia de dezembro, há tanto tempo que parece uma vida, apesar de muitas vezes parecer que o tive ontem aqui.

Ele tinha a idade que eu tenho agora, talvez por isso, este ano, este dia seja ainda mais estranho. 

A minha avó faria hoje 100 anos

01.06.20

Por isso, hoje era para haver festa e um cesto com 100 rosas. Era o que ela dizia que queria no centenário, mesmo achando que nunca lá chegaria. Tinha razão.

Acho que herdei dela o facto de ter sempre razão.

A vida tirou-a da Póvoa de Varzim, mas nunca lhe retirou o sotaque.

Aprendeu a ler sozinha, nas contas das vendas não se atrapalhava. Aprendeu a fazer croché só de ver fazer e bastava-lhe provar qualquer coisa para a conseguir reproduzir nos seus tachos sem dificuldade. Foi dela que herdei o gosto pela cozinha, apesar dela ser péssima a dar receitas, o que fazia com que pouca gente lhe consiga igualar o ponto, o paladar, a textura. Tenho para mim que é este o segredo das cozinheiras.

Que saudades do tempero da avó!!

Uma vida difícil, com muitas perdas pelo caminho e muitas histórias para contar. Não era de levar desaforos para casa.

"Reza a lenda" que andava a vender bananas num sítio onde a venda ambulante era proibida quando foi apanhada pela polícia e que, no caminho da esquadra, comeu quase tudo o que levava no cesto, pelo que já não havia nada para a acusar. A pena cumpriu-a em dores de barriga, mas de queixo erguido. Os polícias teriam ficado com as bananas e mais a multa e ela sem dinheiro para alimentar os filhos.

Pelo que consta, que eu não vi, era uma das que se envolvia nas maiores discussões que se tornariam históricas no bairro. Para defender alguém, para pedir satisfações de algo, mas principalmente, para deixar bem claro que aos filhos dela ninguém fazia mal.

Acho que herdei dela a precipitação e a impetuosidade.

A idade acalmou-a, a doença não lhe permitiu viver completamente feliz os últimos anos, mas viveu rodeada de amor e a dar amor a todos os que a rodeavam.

Por cá deixou uma herança de afetos, determinação, força e carisma. Acho que na família todos temos muito da "velha".

Tenho saudades, muitas!! Mas sei que as saudades são o amor que fica.

 

Parabéns Magda

26.11.19

Aceitei escrever este post na hora que a ideia surgiu (aceitam-se apostas de quem é a culpada disto) e pensei que ia ser fácil.

Não é. 

A Magda faz anos e merece toda a atenção!!

Não queria cair nos clichés de escrever que é uma pessoa espetacular, com um coração enorme, amiga, gentil, sensível (isto seria mentira, que ela tem um calhau no peito e nem sequer chorou a ver o Marley), mas isso parece-me tão vulgar que não me apetece.

Pensei em falar dos defeitos, o que teria muito mais piada, mas... Não é que não os tenha, mas esconde-os muito bem ou então é a gargalhada dela que os apaga da nossa memória. (caneco, ela tem que ter defeitos, como é possível não me ocorrer nenhum relevante?!).

Contar como soubemos da existência uma da outra também já é do conhecimento geral e o primeiro contacto pessoal foi como se já tivéssemos estado efetivamente juntas várias vezes, durante toda a vida. Família, estão a ver?

A verdade é que nos conhecíamos melhor do que muita gente que priva connosco diariamente. Pelo menos da minha parte, é a mais pura das verdades.

Não me adianta estar para aqui a contar mais coisas nem tentar puxar à lágrima, que ela não vai chorar, por isso:

PARABÉNS Magda do meu coração.

Que os próximos 50 sejam ainda mais felizes do que os anteriores, tu mereces e aguentas, e que eu possa ser testemunha disso sempre, seja à distância de um abraço (figurado, que não somos melosas) ou das teclas e de um ecrã.

Gosto bué da tu.

Agora vão ao cantinho dela deixar mimo.

Não precisam de dizer que foram porque eu vos mandei.

 

 

Almoço de família

08.04.19
Não estávamos todos juntos desde o último funeral e entre primos resolvemos que tínhamos que nos encontrar sem ser para isso.

O balanço é positivo.

 

- Estão todos muito velhos (eu não, claro).

- Estão todos mais gordos (eu por acaso não... sempre fui).

- As doenças estão aparentemente curadas.

- A saúde já não é a mesma para alguns.

- O tio machista está cada vez pior.

- A tia mais serena está com um sentido de humor acutilante e divertido.

- O tio paranoico ainda continua a achar que este encontro "traz água no bico".

- O mesmo de sempre disse que ia mas afinal "não pode".

- Há um segredos "bicudo" na família. Shiuuu!! (acho que já todos sabem, mas pronto).

 

 

Levei comida vegan, tão bem disfarçada que todos comeram e alguns perguntaram: 

- Então mas isto é vegan? 

Sim família, migas de feijão frade e "strudel" de maçã sempre foram vegan.

 

Comi quase tudo o que os outros comeram, menos a carne propriamente dita e o feijão preto, porque tinha bacon... de resto, até passei por uma "pessoa normal".

 

 

Recebi um convite irrecusável

05.04.18

Um dos meus primitos, vem junto a mim e pergunta:

"Olha, queres ser minha padrinha?"

 

Quando consegui parar de rir, dei-lhe um beijinho na testa e disse-lhe que é madrinha que se diz e sim, claro que sim.

 

O batizado é só para o ano, que o rapaz anda-se a preparar para ser um cristão em condições e fará também a Primeira Comunhão.

Devastador e desolador

17.10.17

Sinto-me profundamente triste e a noção de que a minha tristeza não é nada quando comparada com a de tantas outras pessoas, faz-me sentir... vazia (à falta de melhor expressão).

Apetece-me chorar.

Por cada imagem de floresta ardida, por cada casa perdida, por cada novo balanço de vítimas.

Tantas vidas perdidas.

 

Este ano é terrível e desta vez a tragédia tem "cara", porque é muito próxima (será que é distante de alguém?).

 

São muitas as caras conhecidas que se viram envolvidas, que lutaram, que fugiram... que perderam... tanto.

 

A mãe de uma amiga luta pela vida e a minha amiga luta por se recompor e preparar para uma vida que não voltará a ser a mesma.

Esta madrugada chorei quando ouvi a chuva.

Veio tão tarde.

 

E a minha tristeza é tão pequena quando comparada com a de tantas outras pessoas...