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Blog de AlGo

Por Mena Gomes

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Por Mena Gomes

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #11

10.04.20

Estive a ver um filme que me deixou meio estranha... Era assim, um bicho invisível estava a dominar o mundo. Não era uma cidade, nem sequer um país. Era o mundo inteiro. 

Não havia muito a fazer a não ser estar longe do bicho e para facilitar isso, as escolas foram fechadas, assim como todo o comércio não essencial. Os locais de venda de produtos essenciais, tinham regras, que as pessoas iam cumprindo mais ou menos, mas a grande maioria tentava cumprir, para o bem de todos

Os locais de lazer estavam encerrados ou condicionados, concertos ou festas não podiam acontecer. Mesmo as celebrações familiares eram de evitar, limitando o convívio aos que habitam o mesmo teto.

Estes cineastas tem muita imaginação.

Imaginem só que até as celebrações religiosas foram interrompidas sem data para retomar e as competições desportivas canceladas ou adiadas. O que seria parar o futebol.

Só nos filmes realmente.

Apesar de todos os cuidados, havia sempre alguém que era apanhado pelo bicho e nos hospitais temia-se o caos. Em alguns serviços, vivia-se o caos.

Tentava-se manter a cultura, inventava-se a cultura.

Quando alguém sucumbia, fosse por causa do bicho ou por outro motivo qualquer, porque para morrer basta estar vivo, a despedida não era aquilo que estamos habituados. O adeus não era aconchegado pelo conforto de um abraço, e isso... isso dói muito.

Agora o que era verdadeiramente assustador, era a incerteza do futuro, o "quando é que isto acaba", o "por favor, que isto não fique como noutros países"... Apesar das mostras de força de muitos, da reivenção de tantos outros, da onda de solidariedade criada... Apesar de tudo, era muito dificil viver com o bicho.

No fim do filme tive a sensação de ter perdido um mês da minha vida.

Como se ela tivesse parado entretanto, sabem?

Aconteceu alguma coisa entretanto? Atualizem-me, por favor.

 

Tema: Atualizem-me, por favor
Desafio de Escrita dos Pássaros

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #10

03.04.20
A verdade é que sinto que não tenho tempo para nada.
 
Trabalhar em casa é uma merda. Não consigo dizer de outra maneira.
Para além do tempo que me ocupa, suga-me a energia... pouco mais consigo fazer, além daquilo que tem mesmo que ser.
 
Até banho me custa a tomar acreditam? Mas tomo, juro que tomo.
 
Não tenho é tempo (paciência, força, vontade) de vos aturar.
"vos", o mundo em geral.
 
 

Tema: Não tenho tempo para vos aturar
Desafio de Escrita dos Pássaros

 

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #8

20.03.20

Foi tão bom, não foi?

O relógio tocar às 7h da matina, vociferar uns impropérios, espreguiçar... levantar, fazer o que é preciso e ir para o trabalho.

Trabalhar durante 8 horas, com intervalo para almoçar, o resto do jantar de ontem, direto da marmita aquecida no micro-ondas...

Sair do trabalho, passar no super para umas compras...

Chegar a casa, descalçar os sapatos, abraçar a malta e esticar no sofá...

E no outro dia repete.

Confessa lá, nos dias que correm, lentos, trabalhosos e incertos, percebes que eras feliz, e não sabias.

Agora vá Alexandra, quando isto tudo passar, tens oportunidade de agradecer a vidinha a ser o que é, mas em bom.

Acredita que, apesar de tudo, o mundo vai tirar de tudo isto algo de bom.

Não sei o quê, nem quando... mas acredito.

 

Tema: Foi tão bom, não foi
Desafio de Escrita dos Pássaros

Desafio de escrita dos Pássaros 2 #7

13.03.20

Olha! Morri! Grande porra!

Agora nem sequer me dava jeito…

Mas pronto, não há quem não morra,

E para mim nada mais há a ser feito.

Cabe-me então escrever o elogio,

Não vou deixar que o façam por mim,

Ainda alguém fazia um desvio...

E dizia “Morreu? Até que enfim”.

Se morri é porque estive viva,

E é da vida que se fala nesta altura.

Não, não cumpri a expetativa,

Ainda assim, viver foi uma aventura.

Amores, desamores, ganhos e perdas.

Muitas coisas boas e algumas merdas.

Amizades, antipatias, subidas e quedas.

Comi o que podia, mas não dei todas as quecas.

Sei que alguns agora me choram,

Outros riem, mas não por falta de amor,

É que nem sempre a lágrima é tristeza,

E muitas vezes o riso afaga a dor.

Sei que a muitos deixarei saudades,

E deles as levo com certeza,

De outros… isto não é momento de verdades.

Vamo-nos encontrar um dia, na profundeza.

 

Escrever isto poderia parecer triste e feio,

Mas só o é para quem não souber (quiser) brincar...

Temos que levar a vida sem receio

De nos rirmos só "porque sim", até quinar.

 

 

Tema: Escreve o teu elogio fúnebre
Desafio de Escrita dos Pássaros

 

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #6

06.03.20

“Volt’imeia é isto. Ligo o com´tador e ele abre janelitas sem parar.”

Desde que tem o portátil, comprado quando andou nas "Novas Oportunidades", Amélia não se cansa de "surfar na internet". Deixou de fazer ponto cruz, passa horas a procurar gráficos novos. Procura receitas durante muito temo e, por isso, não tem tempo para cozinhar. Como é pouco cuidadosa, para além de novidades também é brindada amiúde com vírus, malware e spyware.

Ligou ao sobrinho, que está em Erasmus em Malta:

- Ai" Filho. Fico tã preocupada agora co’esse conavírus que para aí anda...
- Esse quê?
- Essa doença dos chineses.
- Oh tia Amélia, só tu!!... o coROnavírus não é o vírus que mais te devia preocupar. Já te avisei que não abrisses tudo o que te enviam.
- ‘tão!! S’as p´ssoas mamandam as coisas, gosto de ver.

Pedro sabia que era uma batalha perdida.
- Vai ao Mister PC, no Fórum, e perguntas pelo Celso. Eu vou avisá-lo que lá vais.

Perto dos 50 anos, o pouco que Amélia aprendeu das novas tecnologias foi com a patroa que a convenceu a ir para as Novas Oportunidades tirar o 12º ano. O sobrinho Pedro era um querido, e acudia-lhe quando a máquina a atraiçoava.

“Embalou” o seu portátil como uma preciosidade, com plástico de bolhas e tudo, enfiou-o na pastinha, vestiu o melhor vestido, até pôs perfume e lá foi ela para o centro comercial.

Na loja perguntou pelo Celso.

- Sou eu. Deve ser a “tia” Amélia.

Amélia ruborizou. Pensava encontrar um puto como o sobrinho e afinal, Celso era um quarentão, alto e espadaúdo, com olhos verdes e um sorriso afável.

- O mê Pedro disse-lhe o que ê queria sr. Celso?
- Disse, mas sou só Celso.

Enquanto “desembrulhava” a “relíquia”, o informático reparou que por trás daquele “look” e trato simples havia uma bela mulher.

- Dona Amélia. Enquanto isto aqui fica a limpar, vamos tomar um café? Eu explico-lhe como evitar vírus e outras coisas más…

Amélia aceitou. Há muito tempo que não estava sozinha com um homem, nem sabia bem o que dizer, mas foi “um café“ agradável, e a conversa acabou por ser divertida, com Amélia a aprender bastante de como devia usar o computador.

De regresso à loja, Celso tratou de encerrar e embalar o computador, sem o plástico bolha, que ela já sabia ser desnecessário. Disse que a conta acertava com o sobrinho Pedro e despediu-se de Amélia com um beijo na mão.

“Estou perdida!! Venho aqui com um vírus no portátil e vou-me daqui com um no pensamento. Atão mas agora vou-me ficar a sonhar com o informático, que nem sequer é home para mim”

Só no dia seguinte voltou ao computador, para pesquisar como tratar orquídeas, que deixara morrer ocupada que está em pesquisas de como tratar de plantas. Quando abre, encontra uma surpresa no ecrã

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Tema: Oh não, um vírus outra vez!
Desafio de Escrita dos Pássaros

 

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #5

28.02.20

O sol já inunda o quarto, é quase meio dia, e a temperatura está entre 23 e 25º. Cama feita com lençois de algodão branquinhos e um cobertor fofinho. Espreguiço, faço festas ao Tobias, vou para a casa de banho e a banheira está cheia com água bem quentinha e a cheirar a flores.

Posso ter a banheira cheia à vontade porque tudo o que eu desejo se realizou e não há falta de água (nem água a mais) em parte nenhuma do mundo.

Quando saio do quarto está à minha espera um pequeno almoço daquelas que as novelas da Globo nos habituaram, tudo vegano claro.

Como tudo o que eu desejo se realizou, o desperdício alimentar não é um problema, nem sequer de consciência.

Vou até à praia, que é logo ali no fundo do jardim. Ainda está só a amanhecer. Ainda há uma brisa fresquinha e dá para fazer uma caminhada na areia molhada com ondas pequeninas a bater nos calcanhares. Há um ou dois surfistas madrugadores, de resto, está vazia de pessoas.

Sim, eu acordei com o sol alto e na praia ainda só amanheceu, mas é possível, porque tudo o que eu desejo se realizou.

Volto para casa e há um ginásio... passo por ele sem parar, era o que faltava, tudo o que desejo ter-se realizado e eu ter que ir ao ginásio. Entro no SPA para umas massagens relaxantes, sem que me toquem nos pés, óbvio, aroma e cromoterapias... Depilaç... esqueçam, isso não é preciso, porque tudo o que eu desejo se realizou.

Faço o almoço, porque gosto de cozinhar e a casa tem uma daquelas cozinhas dos programas de casas de sonho da SIC Mulher.

À tarde vou ler um livro à beira da piscina, ou se me apetecer, visitar um museu em Barcelona, lanchar crepes em Paris, subir a Machu Picchu, percorrer a grande Muralha da China ou jogar roleta em Las Vegas. Sem medo do coronavírus nem de perder dinheiro, porque tudo o que eu desejo se realizou, não há riscos.

Jantar, vou jantar fora. O sitio escolho depois, pode ser onde eu quiser, porque tudo o que eu desejo se realizou.

A seguir vou ao cinema... mão, melhor, vou assistir a um espetáculo na Broadway, uma ópera em Itália ou dançar tango na Argentina... medo de andar de avião? Não tenho, tudo o que eu desejo se realizou. Não há acidentes.

Depois... depois acordo, até porque já passei das 400 palavras.

 

Tema: Acordas e tudo o que mais desejavas realizou-se: conta-nos o teu dia
Desafio de Escrita dos Pássaros

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #4

21.02.20
Pela primeira vez desde que o desafio começou
Chegou ao dia sem ter escrito o texto
Preparada para nada publicar.
Não se pode dizer que ela não tentou
Mas isto não lhe lembra nenhum contexto
É coisa para a fazer desesperar
 
O tema não tem muito que se lhe diga
Quer lá saber se o Google está errado
Por esta semana escreve pouco. Siga!
Agora tem que ir ao supermercado.
 

Tema: O Google está errado
Desafio de Escrita dos Pássaros

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #3

14.02.20
Solteira há uma porrada d'anos
Sei lá eu como deixar de o ser
Não estou mal, o coração está sem danos
Mas às vezes sinto-me só,
como devem compreender.

Um dia entretida no telemóvel
Já sem vidas num jogo qualquer
Cansada do feed do Facebook
Fui para o Instagram olhar sem ver

Eis que me surge uma ideia peregrina
Das que correm mal a maior parte das vezes:
Instalar o Tinder e pesquisar por gajos
Com fé que a coisa não desse em fezes

Ele é moços em tronco nu
Outros com amigos giros para disfarçar
Acompanhados de cães, gatos ou crianças
Havia até uma foto de um prontinho para casar.

Esquerda, esquerda, esquerda
Este gosto, direita: match
Não é manual para iniciar relacionamentos
Mas é a maneira mais fácil de encontrar um "mache".

Qualquer semelhança com a realidade
Poderá ser ficção ou não
Só digo que para jogar "ao toca e foge"
Não sei se não vale mais usar a mão.

Que texto tão lindo para o dia do amor
Sou uma romântica sem medida
Só sei que se continuo com este mau feitio
Nunca mais na vida sou ...
 

Tema: Manual para iniciar relacionamentos
Desafio de Escrita dos Pássaros

Desafio da escrita dos Pássaros 2 #2

07.02.20

- A senhora tem um tumor.

As palavras ecoaram no gabinete mas não na cabeça de quem ouvia. Não faziam sentido. Não se percebeu o que ela disse. Os sons não formaram palavras dentro das cabeças.

- É grave doutora?

- Bom, tem alguma gravidade. É um carcinoma. Mas vamos tratar disso. Agora vai à secretaria com este papel, já pedi consulta de oncologia, depois vai ao -1 marcar...

Mas que raio diz ela que não se consegue processar? Num flash de tempo, sem perceber como, estão de regresso a casa, num caminho estranhamente mais demorado que o habitual e em silêncio.

Quando entraram em casa o estrondo. Caíram num choro profundo que pareceu durar horas. Secaram as lágrimas e juraram que iam combater aquilo.

TACs, ressonâncias, com e sem contraste, análises diversas, sempre adiando um exame tão essencial para o diagnóstico final como perigoso para o que era preciso viver...

a amiga de uma amiga leva os exames a uma médica amiga

Sim, é preciso ter amigos. Na hora da aflição vale tudo.

Alívio.

A “massa” é uma grande "cagada" deixada da cirurgia de retirada de vesícula. Ficaram lá uns "agrafos" de costura "mal amanhados" que formam uma amalgama esquisita... mas é tudo células normais. Não é cancro.

Entretanto chega a consulta com o oncologista.

- A senhora sabe porque veio a esta consulta?

- A dra X disse-lhe que tinha um carcinoma entre o pâncreas e...

- A dra X disse isso assim?

- Sim.

- É que não, a senhora não tem tumor nenhum.

- Nós sabemos. É uma costura defeituosa que…

- Sim, é isso. Aqui que ninguém nos ouve, a minha colega não tem bom olho para exames, mas tem ainda menos sensibilidade na transmissão de “diagnósticos”. Lamento que se tenha assustado. Mantenha a vigilância com análises sanguíneas, é suficiente.

...

De volta à consulta da dra X

- Bem, já sei as novidade. Que bom!! Eu recomendo que faça na mesma uma CPRE, para ficarmos mesmo descansados.

- O dr. oncologista disse ser desnecessário face aos riscos...

- Vocês é que sabem. Há riscos, mesmo de vida é verdade, mas, se não querem fazer o exame vou dar alta, uma vez que sem exames não consigo saber como está.

- Desculpe a honestidade dra, mas parece-me que nem com exames consegue.

Mudou de cor

- Pronto, então acabamos aqui, passe pela secretaria para a alta. E olhe que não tem cancro, mas a diabetes também mata.

 

Esta história é real e nos diálogos nada foi inventado. Talvez o tempo tenha apagado algumas vírgulas e palavras, mas nunca, jamais o contexto.

Em breve faz 10 anos e continua tudo bem.

Para o bem e para o mal, isto de médicos, nunca fiando.

 

Tema: É que isso de médicos, nunca fiando
Desafio de Escrita dos Pássaros